Histórico

O Programa de Pós-Graduação em Geologia da UFVJM (PPGGeo) teve início no primeiro semestre de 2017, contando com 13 docentes distribuídos nas duas linhas de pesquisa: 6 permanentes na linha “Geologia Regional” e 5 permanentes na linha “Análise Ambiental para Gerenciamento de Recursos Naturais”, além de dois colaboradores. Desses docentes, um permanente de cada linha e um colaborador, foram desligados do programa dois anos depois, em função da dificuldade de atuarem de forma efetiva para o crescimento do programa, a despeito de serem experientes e com produção científica consolidada. Como esses docentes pertencem a outros programas de pós-graduação, somado ao fato de existirem solicitações de credenciamento de docentes da UFVJM, o Colegiado do PPGGeo optou pela reformulação.

Hoje o programa conta com 15 docentes após o credenciamento de três novos docentes em 2019, sendo 6 docentes permanentes na linha de Pesquisa “Análise Ambiental para Gerenciamento de Recursos Naturais”, e 8 na linha “Geologia Regional e Aplicada” e um colaborador, o Prof. Miguel TUPINAMBÁ, professor de graduação em Geologia da UERJ. A inserção de “e Aplicada” à denominação original de “Geologia Regional” foi deliberada pelo Colegiado do Programa, após a constatação de que muitos candidatos tinham interesse na execução de projetos com apelo à geologia aplicada e de repercussão socioeconômica. Sendo assim, no entendimento de que essa mudança atrairia mais candidatos, além de atender ao interesse público, o Edital 2020/2 ofertou essa “nova” linha de pesquisa na perspectiva de uma maior atratividade, resultando no aumento do número de discentes e num melhor equilíbrio no quantitativo de orientando por orientador.

A composição atual de cada linha neste primeiro quadriênio mostra-se adequada à dimensão do programa, pois não tem demonstrado ociosidades ou excessos de demanda, devendo-se considerar, também, a grande diversidade de formação dos docentes, o que propicia a atuação de pesquisa em diferentes sub-áreas da Geologia e a interação interdisciplinar, ou mesmo multidisciplinar quando envolve as duas linhas de pesquisa. Outro ponto positivo está na composição do corpo docente com veteranos e jovens pesquisadores, o que, por um lado promove a motivação de ambos, e por outro promove o amadurecimento equilibrado dos mais jovens, que assegura a experiência continuada em investigação científica na área de Geociências.

Cabe ressaltar mais uma vez, que os novos e jovens docentes têm mantido boa produção científica e acadêmica com demonstração de muita disposição para orientar e ministrar disciplinas, qualidades indispensáveis para manter o programa em crescente evolução, na perspectiva de abreviar a sua consolidação e excelência. Por outro lado, a proximidade e interação mantida com o curso de graduação em Engenharia Geológica tem facilitado o desenvolvimento de trabalhos conjuntos com estudantes de graduação e do mestrado, gerando um círculo virtuoso para a disseminação de conhecimento e na valorização do aprendizado pela prática junto a trabalhos de pesquisa, especialmente com a conjugação de áreas de trabalho de conclusão de curso de graduação com áreas de dissertação de mestrado envolvendo vários orientadores. Assim, mesmo com as severas restrições de financiamento dos últimos anos, o corpo docente tem sido capaz de elaborar e coordenar projetos de pesquisas e estabelecer e manter cooperação com docentes e pesquisadores de outros programas de pós-graduação da UFVJM e de outras instituições.

A vasta região onde se insere os quatro campi da UFVJM mostra notável importância geológica e ambiental, em particular a Serra do Espinhaço, que define uma paisagem natural espetacular e um clima físico peculiar ditado pela orografia, além de suas riquezas minerais, sobretudo o diamante. A história da colonização territorial dessa Serra, transpassa, por vezes, o inimaginável, sendo mesmo indissociável da história da geologia brasileira e, bem por isso, quase todos os geólogos brasileiros agregam alguma informação da geologia da mesma. As peculiaridades da região fizeram grandes geólogos dedicarem suas vidas de pesquisadores em estudos para caracterizar a origem e dimensionamento de jazidas minerais e mesmo na caracterização da geologia regional, destacando-se, sobretudo, o Barão von Eschwege, Orville Derby, Djalma Guimarães, Luciano J. de Moraes, Otávio Barbosa e Reinhard Pflug, sem desmerecer outros geólogos e pesquisadores que fizerem trabalhos na região, que somam várias dezenas de indivíduos.

A Serra do Espinhaço representa, inegavelmente, a maior superfície de exposição rochosa em clima tropical do Planeta Terra, expondo conjuntos de dimensão e significado geológico espetacular, devido a natureza de suas rochas, bem como do processo de reajustamento crustal relacionado à formação dessa Cadeia de Montanhas.

Esse imenso “laboratório natural a céu aberto”, aliada à sua complexa e instigante história geológica tem sido alvo de estudos e discussões científicas desde o século XVIII. A partir da década de 60 do século passado com o advento dos trabalhos do Prof. R. Pflug, que incluiu o mapeamento geológico de uma superfície de cerca de 30 mil km2, tornou a região como um dos principais focos de debates da geologia do Brasil. Isso motivou a criação do Centro de Geologia Eschwege, o qual, por quase 30 anos, se tornou ponto de referência em Geologia das universidades brasileiras, com a oferta contínua de cursos e programas intensivos de mapeamento geológico a estudantes de todos os cursos de geologia do país. O suporte logístico desse Centro e os trabalhos de cooperação científica com a Alemanha propiciaram, desde 1968 até os dias atuais, o desenvolvimento de mais de 50 teses e dissertações abordando diferentes aspectos da geologia da região, sob a supervisão do Prof. Pflug e de outros docentes em universidades da Alemanha (Universidades de Heildeberg, Freiburg Mainz e Universidade Técnica de Clausthal) e do Brasil (UnB, UNICAMP, UFMG, UFOP e USP).

A despeito da maioria dos cursos de geologia das universidades brasileiras não mais assumirem a obrigatoriedade de estágios de geologia de campo ministrados pelo Centro de Geologia Eschwege no âmbito da cidade de Diamantina, o apoio logístico desse Centro e mesmo o suporte prestado por docentes do Curso de Engenharia Geológica da UFVJM tem mantido um fluxo regular de acadêmicos de geologia de diferentes universidades, especialmente do sudeste do país, que superam mais de 100 discentes por ano.

O advento do curso de Engenharia Geológica em 2014 e, sobretudo, o Programa de PósGraduação em Geologia do ICT/UFVJM em 2017, representou o estabelecimento de estrutura de apoio e de massa crítica para a retomada da tradição e a vocação natural da região no que concerne a pesquisas, estudos e visitação da Serra do Espinhaço, incluindo a cidade de Diamantina, que goza de especial apreço pela comunidade geológica brasileira.

A localização do Campus JK, no alto da Serra do Espinhaço Meridional, facilitou a realização da maior parte das práticas das atividades didáticas de campo da graduação e pós-graduação. Essa abrangente área de grande complexidade geológica permite que vários projetos de pesquisa sejam realizados no âmbito destas províncias geológicas que têm expressivo significado, principalmente pelas peculiaridades que lhe são inerentes, ou seja, as coberturas proterozoicas e fanerozoicas do Cráton do São Francisco, do Orógeno Araçuaí e do Quadrilátero Ferrífero. Estas províncias geológicas, tombada pela Unesco como Reserva da Biosfera, encerra 12 unidades de conservação entre parques nacionais, estaduais, municipais e estações ecológicas. Representa também berço das águas de três importantes bacias hidrográficas: São Francisco, Jequitinhonha e Doce.

A fixação da universidade dentro ou nos arredores de importantes províncias geológicas, em termos de expressividade regional e de significado científico, proporcionou resultados relevantes no desenvolvimento do conhecimento geológico regional e para o incremento da ciência geológica, isso porque as sucessivas gerações de docentes pesquisadores da instituição abordam os temas e objetos que se situam na fronteira do conhecimento geológico deixada pela geração anterior. Nessa perspectiva, o estudo contínuo da geologia da Serra do Espinhaço e das províncias limítrofes, está promovendo o conhecimento não apenas da faixa orogênica em si e da definição de marcos estratigráficos de relevância para o conhecimento geológico regional nas fronteiras do mesoproterzóico e do neoproterozóico, mas também, as especificidades de bacias sedimentares e de faixas orogênicas pré-cambrianas.

Ademais, essas regiões têm sido alvos da exploração antrópica desordenada das suas riquezas minerais, colocando em risco os sistemas hídricos e consequentemente vários ambientes geológicos. Assim, esse programa tem buscado, dentro de suas linhas de pesquisa, a interação entre o conhecimento da geologia e a explotação dos recursos naturais e ambientais, sem perder de vista a mitigação dos impactos advindos da exploração já existentes ou futuras.

É sempre importante deixar registrado que diante do desenvolvimento científico e tecnológico alcançado nas últimas décadas e mesmo da demanda crescente por tecnologia – conforme o conceito atual de sociedade do conhecimento – o sudeste do Brasil revela notável contraste intra-regional, pois ao se observar regiões como as dos Vales do Jequitinhonha do Mucuri, que constituem cerca de 12% do território do Estado de Minas Gerais, ainda é pouco o que tem sido feito ou construído para a difusão do conhecimento e desenvolvimento tecnológico dessas regiões. O Vale do Jequitinhonha possui uma população de cerca de 970 mil habitantes em 54 municípios e o IDH-M é de cerca de 0,66. O Vale do Mucuri possui uma população de cerca de 460 mil habitantes em 27 municípios e o IDH-M é de 0,67. Estes índices estão abaixo do IDH-M de Minas Gerais e do Brasil, respectivamente de 0,73 e 0,76. Esse quadro é um reflexo, inclusive, das poucas oportunidades de acesso ao ensino superior público, gratuito e de qualidade, que pode ser considerado como imprescindível ao desenvolvimento almejado para tais regiões. A UFVJM trouxe oportunidades e perspectivas para os jovens dessas regiões, cujo público estudantil constitui mais de dois terços desses jovens e a criação e expansão de vários cursos de graduação da Universidade criou massa crítica de conhecimentos específicos, ampliando, assim, a demanda por cursos de pós-graduação Strictu sensu, com especial destaque a programas de geociências. O ensino da graduação pode ser visto como uma meta, mas não como um fim, haja vista que, como um meio de formação de massa crítica pela difusão do conhecimento deve integrar um sistema com capacidade de atualização permanente dos saberes e mesmo de geração de conhecimento através de pesquisas científicas e do desenvolvimento de tecnologias.

Como já destacado, a UFVJM assenta seus campi em locais estratégicos, além de representar a única universidade federal com sede na metade norte do Estado de Minas Gerais, ou seja, na porção de situação socioeconômica mais deprimida, incluindo o baixo IDH dos seus municípios. Mais de 55% dos estudantes da UFVJM são oriundos de municípios dos territórios da metade setentrional do Estado, destacando, pois, o impacto social positivo da universidade para essas regiões. O PPGGeo tem absorvido um contingente significativo de egressos desta universidade e alguns da Unimontes (universidade estadual sediada em Montes Claros), provenientes de diferentes cidades da região norte do Estado. Essa inserção destaca um potencial relevante na direção do desenvolvimento regional dos territórios de atuação da UFVJM, que é carente de massa crítica e de competências para a sua transformação socioeconômica.

O Programa de Pós-Graduação em Geologia da UFVJM assume a abordagem direta de uma vasta região, especialmente a Serra do Espinhaço Meridional e faixas contíguas, cujo universo temático e geográfico de atuação do programa tem identidade própria e sem superposição com os programas de pós-graduação já existentes em Minas Gerais. As pesquisas realizadas no âmbito do Programa de Pós-graduação em Geologia da UFVJM estão contribuindo, certamente, para reduzir as desigualdades da região, uma vez que forma recursos humanos voltados para responder a grandes questões e desafios inerentes esses territórios, seja para pesquisas pertinentes à geologia propriamente dita, seja para focar temas relativos ao meio ambiente, que, no conjunto, abraçam as questões hídricas e de recursos naturais como um todo. Ressalta-se que, até o momento, todas as dissertações desenvolvidas no PPGGeo foram realizadas no âmbito da Serra do Espinhaço e faixas adjacentes, o que projeta um contínuo e progressivo conhecimento da geologia regional, promovendo a retomada dos debates acerca da geologia da Serra do Espinhaço, assunto que sempre foi muito valorizado pela comunidade geológica brasileira.

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