Amar, verbo intransitivo – Mário de Andrade

Lição de Amor – Amar, verbo intransitivo – Por: Raul Arruda Filho

Aventura de final de semana. Revisitar Lição de Amor (Dir. Eduardo Escorel, 1975), a adaptação do romance Amar, Verbo Intransitivo, de Mário de Andrade. Filme de baixo orçamento (as cenas se limitam ao jardim ou dentro da casa. O mundo externo foi eliminado). Cinema artesanal − sem os truques baratos de edição que garantem boas bilheterias. Câmara parada e o uso freqüente de campo e contra−campo. A dramaturgia do cinema. Parece teatro filmado, algumas cenas mostrando problemas nas soluções de continuidade, a mudança de posição da câmera e o reinicio da cena no ponto interrompido. Lilian Lemmertz, Rogério Fróes, Irene Ravache.

Década de 20 do século 20. Fräulein Helga, a nova governanta, ensina alemão para os herdeiros da família Sousa Costa. Felisberto, o patriarca, preocupado com os perigos do mundo, além de querer definir a sexualidade do filho mais velho, que vai fazer dezesseis anos, contrata Fräulein para ensinar a Carlos a arte do amor. Laura, a esposa, desconhece esse acordo (mais tarde, quando descobre a trama, aceita participar da hipocrisia burguesa).
Carlos é um garoto que ainda não efetuou a transição entre a infância e a adolescência. Implica com as irmãs, joga futebol, desconhece os interesses que movem o mundo. Com o passar do tempo, começa a perceber os atrativos da mulher mais velha. O desejo vai se insinuando entre os dois, minando resistências, instilando vontades. Nas aulas de alemão, um idioma áspero, brota a suavidade da excitação amorosa. Pretextando um melhor ensino da lição, em diversas oportunidades, a professora pega na mão do rapaz. Ele se retrai. Como no jogo entre gato e rato. Logo depois, a mesma situação. Mas, com outro desfecho. No início, beijos e abraços. Depois, a exigência do macho: quer visitá−la no quarto. Nada que o espectador não conheça: o amor sendo confundido com sexo, o sexo sendo substituído pelo amor.
Quando considera que sua tarefa pedagógica está completa (ou perigosamente próxima da dependência afetiva), Fräulein combina com Felisberto a ruptura. Uma noite, quando o rapaz vai visitar a amante, o pai efetua o flagrante – e, em nome da moralidade e dos bons costumes, se declara indignado com tanta indecência. Afinal, aquela é uma casa de respeito.
O rapaz reage como um menino. Cheio de culpa, chora, grita, se declara apaixonado. Quer continuar usufruindo do brinquedo. Fräulein vai embora, oito contos de reis na bolsa, um pouco apreensiva (talvez por ter gostado um pouquinho de Carlos, talvez por não se sentir bem em precisar repetir, logo depois, a mesma situação incomoda: seduzir algum outro garoto tolo).
Uma cena do filme é interessante. A família se reúne no jardim para alguns “instantâneos”. Diante da câmara, a unidade familiar é simulada nas reproduções em papel fotográfico. Por alguns segundo parecem estar juntos, unidos, a filha da cozinheira fazendo companhia às “patroinhas”. Provavelmente, quando as fotografias em preto−e−branco começarem a ganhar a tonalidade sépia, todo esse arranjo se mostrará artificial e insosso.
P.S. 1) De maneira enviesada, por força do constructo ficcional ou do caráter de Bildungsroman (romance de formação) que permeia as duas narrativas, não há como negar (em alguns trechos) a aproximação entre os filmes Lição de Amor e O Leitor (Dir.Stephen Daldry, 2008), entre os romances de Mário de Andrade (Amar, Verbo Intransitivo) e de Bernhard Schilink (Der Vorleser).
P.S.2) Lição de Amor não teria muitas chances de ser produzido nos dias de hoje. A chatice politicamente correta provavelmente gritaria contra o “abuso” que é mulheres mais velhas seduzirem homens mais jovens (ou com idade abaixo da maioridade jurídica).

One Response to Amar, verbo intransitivo – Mário de Andrade

  1. Juventina says:

    Vamos le1 ver. Para je1, evolue7e3o e9 mudane7a. Ne3o e9 o contre1rio de regresse3o. A evolue7e3o, gonablmelte, de1-se no sentido de maior adaptae7e3o. Sempre. O que determina a adaptae7e3o (fitness) e9 o que quer que tenha poder sobre a sobreviveancia dos genes, que maioritariamente este1 ligada e0 sobreviveancia do indivedduo. Nomeadamente, no caso dos animais domesticados, toda a Natureza e, de forma mais directa, o Homem. No caso de animais selvagens, e9 toda a Natureza, desde fenf3menos geogre1ficos a influeancias de outros genes noutros indivedduos.Se he1 alterae7f5es dentro da mesma espe9cie- isso quer dizer que elas ne3o team saltos de mutae7f5es como a passagem de um trilobite a um ser humano ou um macaco a gente.Na reprodue7e3o de indivedduos, ne3o e9 a mutae7e3o o operador gene9tico mais importante. c9 o cross-over. c9 a mistura e re-mistura da pool gene9tica que oferece a maior mais-valia adaptativa. Ne3o que as mutae7f5es ne3o sejam importantes. Mas se3o externas ao sistema sendo ao mesmo tempo o que o impede de estagnar. Permitem escapar aos me1ximos locais. Isto e9, pode dar-se o caso de se chegar a uma beco sem saedda evolutivo: um conjunto de genes este1 numa posie7e3o em que ne3o e9 possedvel melhorar a sua adaptae7e3o por passos incrementais como normalmente acontece com o cross-over. As mutae7f5es alteram e diminuem a adaptae7e3o, permitindo recomee7ar noutro caminho. Isto nunca aconteceria sem mutae7f5es porque os genes se3o sempre pressionados no sentido de maior adaptae7e3o.Portanto, a evolue7e3o das espe9cies ne3o se de1 por saltos, em norma. Ne3o quer dizer que ne3o possam surgir adaptae7f5es mais radicais, mas normalmente e9 por passos graduais. Meio olho e9 muito melhor do nenhum olho.V. teima em ne3o este1 provada a teoria. Eu digo-lhe que o princedpio este1 mais que provado. Pode haver falhas na sedntese neo-darwinista da evolue7e3o e da gene9tica mendeliana – e9 cieancia, afinal – mas o princedpio de evolue7e3o por selece7e3o funciona e a zazie ne3o imagina o poder que tem. Eu posso e sei como implementar um algoritmo gene9tico que resolve problemas extremamente complicados usando esse mesmo princedpio. eu consigo demonstrar empedricamente que o princedpio funciona. Sobre se e9 esse princedpio ou ne3o que efectivamente actua na formae7e3o de espe9cies, apontei-lhe o caso das bacte9rias. Sei que tambe9m je1 apareceram estirpes de HIV resistentes ao retro-virais. Nos micrf3bio e9 muito mais fe1cil observar o processo em ace7e3o porque as gerae7f5es demoram muito menos tempo. Que tem a dizer sobre isso? Como explica?PS: Atene7e3o que quando se diz que o homem descendeu do macaco, isso ne3o e9 verdade. O correcto e9 dizer-se que o homem e o macaco tiveram um antepassado comum. Mas, de facto toda a vida que se conhece aparenta ter um antepassado comum. E essa concluse3o tira-se do facto de toda a vida usar, essencialmente, o mesmo suporte quedmico reprodutivo: os e1cidos nucleicos.Havere1 muit mais que se lhe diga sobre isto, e ne3o pretendo dizer que a teoria da evolue7e3o e9 o fim da linha. Novos conhecimentos surgire3o, como alie1s surgem – comee7a a haver um renascimento de Lamarck, um neo-Lamarckismo se quiser, e da teoria das caracteredsticas adquiridas. He1 dados experimentais que sugerem a possibilidade de um mecanismo semelhante actuar a par com a evolue7e3o por selece7e3o.Agora uma coisa lhe posso garantir zazie: o princedpio funciona, e funciona bem. E ate9 e0 data, e9 a melhor explicae7e3o para a diversidade de formas de vida na Terra e para a base comum que todas partilham, simultaneamente.

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