Introdução:
Cine Mercúrio: movimentação de culturas e linguagens é um projeto de extensão, registrado, desde 2010, na Pró-Reitoria de Extensão e Cultura da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri.
Inicialmente, ressaltamos que o objetivo principal do projeto é formar, com base em mostras gratuitas, um público de cinema na cidade de Diamantina. O projeto busca, por meio da linguagem cinematográfica, debater e problematizar as mais variadas questões ligadas ao domínio da cultura, da história, da economia e da sociedade, promovendo a criação de espaços de intercâmbio de opiniões e olhares da comunidade diamantinense e de alguns de seus distritos sobre diversos temas que se relacionam com o meio social de modo mais amplo.
Importa esclarecer também que, ao longo de sua existência, aliadas às exibições ordinárias e semanais realizadas no Teatro Santa Izabel, localizado no centro de Diamantina, o Cine Mercúrio promoveu uma série de ações extraordinárias, entre as quais vale destacar, tomando como referência o ano de 2012, a participação no 33º Festival de Inverno da UFMG e, sobretudo, a exibição de curtas metragens sobre humor no asilo municipal Frederico Ozanam. A propósito dessa última ação, destacamos que o projeto proporcionou um momento mágico para os idosos daquela instituição, pois, muitos deles nunca tinham vivenciado a experiência de ver um filme numa tela grande.
É por essas ações (e outras que ainda virão) que consideramos o projeto Cine Mercúrio importante para a política de extensão universitária proposta pela UFVJM, porquanto, desde seu início, esteve dialogando e refletindo com a sociedade local.
Justificativa:
Certa feita, na Alemanha, Martin Heidegger foi convidado para dar uma palestra sobre o papel das ciências na sociedade moderna. Em um determinado momento de sua exposição, o filósofo alemão causou estupefação na plateia, a maioria composta por físicos e matemáticos. O motivo do espanto foi a seguinte afirmação: os cientistas sociais de hoje calculam, raciocinam, mas não pensam mais. Apoiando-se na etimologia da palavra “pensar” que vem do verbo “pesar” (no sentido de equilibrar), o que Martin Heidegger queria dizer é que o pensamento científico havia se especializado tanto, a ponto de perder todo o contato com a Lebenswelt (mundo da vida) dos homens, num estranho movimento em que se sabia cada vez mais de cada vez menos.
De fato, como observa Laplantine (2007), o drama do pensamento social contemporâneo reside em uma cientificidade extremamente positiva, baseada no intenso parcelamento dos domínios, porém pouco reflexiva, o que, ao fim e ao cabo, terminará obstaculizando o próprio exercício do pensamento. Por isso, é preciso, mais do que nunca, recuperar o sentido total da reflexão. Mais precisamente, faz-se necessário superar a disjunções, absolutamente singulares na história da humanidade, que a ciência moderna impôs ao pensamento, quais sejam, a fratura entre ciência e moral, a quebra entre ciência e religião e, sobretudo, a fratura entre ciência e arte.
É no rastro dessa necessidade, portanto, que, a nosso ver, se inscreve o Cine Mercúrio. Partindo do pressuposto que pesquisa, extensão e ensino formam uma unidade indissolúvel, o projeto utiliza da linguagem cinematográfica como mediação necessária para uma prática pedagógica global e dialógica. Global porque busca apreender os temas que apresenta em suas múltiplas dimensões, afastando-se, assim, por exemplo, de qualquer autonomização do cultural em relação ao social. O que, aliás, faz jus à inspiração do seu nome: “Mercúrio, de pés alados, leve e aéreo, hábil e ágil, flexível e desenvolto, estabelece as relações entre os deuses e entre os deuses e os homens, entre as leis universais e os casos particulares, entre as forças da natureza e as formas de cultura, entre todos os objetos do mundo e todos os seres pensantes” (CALVINO, 1990, p. 68). E dialógica porque concebe o outro, o telespectador, não como um objeto, e sim como um sujeito capaz de fazer formulações significativas sobre aquilo que é transmitido na tela.
Sob outra perspectiva e tomando como referência as ações realizadas em diferentes pontos da cidade, o Cine Mercúrio também se caracteriza como uma tentativa de apropriação da população diamantinense pelos seus espaços de vida. Afinal, como nos lembra Marcellino (1995, p. 66), a democratização da cultura e do lazer passa, necessariamente, pela democratização do espaço: “o que quero dizer é que ação democratizadora precisa abranger, além da construção de novos equipamentos em locais adequados e acessíveis, a luta pela mudança da mentalidade na utilização de equipamentos não específicos e a busca da participação da população na defesa do seu patrimônio ambiental e urbano, o que implica preservar o espaço, revitalizar construções e manter a riqueza da paisagem urbana, podendo significar, inclusive, um elemento que se contraponha à homogeneidade cultural tão presente na vida dos habitantes das cidades”.
Assim, acreditamos que, seja por meio de uma linguagem cinematográfica que permita entrelaçar os diferentes domínios de nosso cotidiano, contrapondo-se, assim, à crescente fragmentação do pensamento social, ou pela promoção da lógica do “usador”, em detrimento do consumidor, notadamente em tempos de hegemonia do privado sobre o público, o projeto Cine Mercúrio justifica-se, antes de tudo, por representar uma contratendência.
Além disso, entendemos, também, que o projeto vem responder a uma demanda da sociedade civil que, segundo explicitam os princípios básicos da plataforma política da extensão universitária, desde 1987, veem a arte como prioridade local, regional e nacional.
Objetivos:
Gerais:
Formar um público de cinema no município de Diamantina, de modo a promover, por meio da linguagem cinematográfica, o debate e a reflexão crítica sobre as mais variadas questões ligadas ao domínio da cultura, da história, da economia e da sociedade.
Específicos:
1. Promover mostras de cinema na periferia do município de Diamantina (MOCRICO – Movimento de Criatividade Comunitária, Rio Grande), na área urbana (Museu do Diamante) e em distritos (Sopa, Guinda e Curralinho) por meio de ações descentralizadas, visando ampliar ainda mais o público participante das ações propostas pelo projeto.
2. Utilizar a linguagem cinematográfica como mediação entre os diversos domínios da realidade social para o desenvolvimento de reflexões e pesquisas teórico-científicas;
3. Potencializar os usos dos espaços públicos da cidade de Diamantina, visando desenvolver o sentido de pertencimento e apropriação;
4. Fomentar a criação de espaços para a realização de debates críticos abertos em torno de questões relativas aos domínios da arte, da cultura e da sociedade;
5. Democratizar o acesso e, por conseguinte, o conhecimento, à produção cinematográfica brasileira e estrangeira;
6. Promover o cinema como atividade pedagógica no ensino básico, por meio das sessões que serão realizadas nos distritos de Sopa, Guinda e Curralinho.
Moradores de Diamantina (regiões central e periférica do município), incluindo, obviamente, a comunidade acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri;População dos núcleos rurais de Diamantina,notadamente os alunos de escolas publicas de Guinda,Sopa e Curralinho.
Metas:
1. Realização de sessões quinzenais de cinema, tendo como impacto um público médio geral de 70 pessoas por mês. As sessões serão organizadas da seguinte maneira:
Sessões mensais no MOCRICO, aos sábados à noite, (totalizando 10 sessões realizadas ao longo do período de vigência do Programa) tendo como impacto um público médio mensal de 50 pessoas;
Sessões mensais no Museu do Diamante – centro de Diamantina, aos sábados à tarde, (totalizando 10 sessões) tendo como impacto um público médio mensal de 20 pessoas;
Sessões bimestrais (totalizando 6 sessões) agendadas com escolas públicas dos distritos de Curralinho, Guinda e Sopa, tendo como impacto um público de 240 alunos.
2. Vincular o bolsista do Cine Mercúrio, bem como os professores colaboradores do projeto, ao grupo de pesquisa NELAS – Núcleo de Estudos em Literatura, Artes e Saberes da UFVJM, registrado no Diretório de Grupos de Pesquisa na CAPES,visando à produção de artigos ou pôsteres a serem apresentados em eventos científicos (estima-se a participação em, ao menos, um evento científico-cultural por semestre).
Público-alvo:
O público alvo do projeto Cine Mercúrio compreende os seguintes atores sociais:
Metodologia:
A metodologia do projeto de extensão Cine Mercúrio compreende os seguintes procedimentos:
a) Canais de Divulgação;
b) Levantamento de dados;
c) Seleção das mostras;
d) Realização das mostras;
e) Materialização acadêmica das ações do projeto.
Os canais de divulgação consistem nos procedimentos adotados pela equipe do projeto para divulgar as mostras, entre os quais destacamos: produção de material de divulgação (folhetos, cartazes, etc.); comunicação por meio da página da UFVJM, de redes sociais, blogs, mala direta via e-mail, etc.; comunicação por meio de associações de bairro (a exemplo do uso de alto-falantes instalados no MOCRICO); divulgação por meio de rádios comunitárias e universitárias (a exemplo do projeto de extensão Rádio Ciência da UFVJM), bem como inserção do Cine Mercúrio em eventos culturais e científicos (Seminários, Simpósios, Fóruns, etc.). Dentro e fora da UFVJM.
O levantamento de dados, por sua vez, consistirá em relatórios sobre o conteúdo das mostras realizadas, indicando, por exemplo, o número de espectadores de cada mostra, seu perfil, bem como o tempo de duração dos debates e os temas neles discutidos, a fim de produzir dados que possam servir de base para monitorar o desenvolvimento do projeto e avaliá-lo de modo contínuo.
Já a seleção das mostras consiste no trabalho, por parte da equipe do projeto, de montagem de cada mostra e do conteúdo do que será exibido e debatido. A ideia é que os temas a serem escolhidos dialoguem direta e indiretamente com a população de Diamantina e da região, de modo que os debates (conduzidos não somente pela equipe do projeto, mas também, em algumas mostras, por professores da UFVJM e da rede de ensino público municipal, por exemplo) guardem significado com o cotidiano vivido dessa população.
As realizações das mostras ocorrerão nos locais e dias já citados anteriormente. O espaço físico será organizado pelos locais que abrigarão a mostra e pela equipe do cine mercúrio. Após a exibição do filme, será realizado um debate, conduzido pela equipe ou pessoas convidadas.
A materialização acadêmica das ações do projeto poderá ocorrer das seguintes formas: apresentação em eventos com intervenções culturais ou científicas; publicação de artigos; promoção de encontros teóricos da linha de pesquisa “Cinema e formação de público” do Núcleo de Estudos em Literatura Artes e Saberes – NELAS/UFVJM.
Referências bibliográficas:
CALVINO, I. Seis propostas para o próximo milênio: lições americanas. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
LAPLANTINE, F. Aprender a antropologia. 1. ed. São Paulo: Brasiliense, 2007.
MARCELINO, N. C. Lazer e Humanização. 2. ed. Campinas: Papirus, 1995.